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Hoje tem marmelada?  Intervenções em performance

As intervenções em performance estão cada vez mais espetacularizadas. Veja como trabalhar isso em sua empresa

O termo performance é usado hoje de forma indistinta nas organizações. Para as escolas de formação, virou um termo mágico do marketing. O tempo todo, o que se vê nas peças publicitárias são frases como “aumente sua performance em vendas” e “alcance alta performance em liderança”. Entretanto, termos comuns e de grande utilização nem sempre são precisos ou representam um grupo específico de fenômenos. Dessa forma, falar que um programa ou ferramenta vai “aumentar sua performance de liderança” é tão vago quanto falar que “precisamos aumentar nosso nível de educação” ou que “minha equipe deve desenvolver mais atitude”. Assim, antes de iniciar ou contratar um trabalho que realize intervenções em performance, precisa-se distinguir se o que se está propondo é realmente algo que vá gerar maior desempenho ou se é apenas um espetáculo, um trabalho de entretenimento.

As intervenções em performance devem ser focadas em gerar maior desempenho ao invés de ser apenas um entretenimento - Foto: Divulgação
As intervenções em performance devem ser focadas em gerar maior desempenho ao invés de ser apenas um entretenimento – Foto: Divulgação

Performance é um termo de origem inglesa (to perform), que por sua vez é derivado de um verbo da língua francesa (parfornir), e pode ser definido como o produto do ato performar, que significa dar forma, fazer, concluir ou cumprir algo. É um termo muito utilizado nas artes, como na expressão “performance artística”, sendo, neste caso, sinônimo de apresentação. Ainda nas artes, a qualidade com que um músico executa peças (músicas) é uma utilização mais adequada do termo, chamada de performance instrumental. Neste campo de estudos e trabalhos, a técnica e a capacidade de um músico utilizá-la para produzir uma execução adequada são os grandes focos de trabalho. Esta capacidade, muitas vezes chamada de sensibilidade musical, envolve a ampliação percepção de tonalidades e volumes, por um lado, e a habilidade de criar intepretações, por outro.

No universo organizacional, a palavra performance é utilizada como sinônimo de desempenho. Melhorar a performance de trabalhadores ou de equipes nas empresas é aprimorar sua capacidade de produzir uma entrega com maior qualidade ou velocidade. Dessa forma, o sentido do termo no contexto organizacional se aproxima muito do que é atribuído na expressão “performance instrumental”, ou seja, a execução.

Quando se fala melhoria de performance, quase sempre a primeira intervenção que se pensa é o treino. Várias vezes as pessoas associam a falta de performance a uma ausência ou carência de determinadas capacidades, acreditando que se treinar mais, terá um melhor desempenho. Entretanto, na performance musical, não é apenas a capacidade técnica do músico que interfere no seu desempenho na execução da obra. Um dos pontos é a qualidade da partitura, que pode variar de importância entre estilos diferentes. Além disso, outros pontos são igualmente importantes, como o local no qual o músico irá tocar, o treinamento prévio que este teve, a qualidade técnica das pessoas que tocam junto com ele, a quanto tempo toca com elas, a qualidade do instrumento que usa, dentre outros. Somando-se a isso, a apreciação do seu professor, dos colegas e da plateia irá dar pistas se ele está ou não no caminho certo.

Dessa forma, assim como na música, não é apenas a aquisição de conhecimentos ou desenvolvimento de habilidades que impactarão a performance de uma pessoa ou equipe. Por mais que este seja sim um ponto relevante, é importante também analisar o contexto no qual a pessoa trabalha e quais são as recompensas e punições que esta recebe quando age no sentido de alcançar o desempenho esperado e quando não o faz. Se um músico for excelente tecnicamente, mas lhe for dado um instrumento inadequado, sua performance será certamente ruim.

A questão do estilo. Outro ponto a considerar na performance musical é que os elementos que interferem na qualidade da execução ao tocar um instrumento, no entanto, são diferentes de acordo com o estilo. Para o músico que vai trabalhar com música erudita, por exemplo, é primordial ter uma partitura de alta qualidade, é importante estudar a história da peça, o contexto no qual foi criada, dentre outras informações relevantes sobre a obra. Isso porque qualidade de performance na música erudita representa, em grande parte, executar a peça da forma mais próxima da prevista pelo compositor, o espaço de criação é mínimo. Em muitos trabalhos em empresas, performance também pode ser análoga à execução de uma obra musical erudita. O que se espera do trabalhador, nestes casos, é uma execução que produza resultados específicos e dentro de procedimentos preestabelecidos. Os serviços de contabilidade, segurança do trabalho e, na maior parte das vezes, os de produção industrial são exemplos deste tipo de execução. Para contextos como estes, ter a descrição clara dos processos é fundamental, é partitura. Qualquer trabalho de ampliação de desempenho em empresas, setores ou funções com estas características, antes mesmo de pensar em qualificação, precisa avaliar se há procedimentos bem estruturados, funcionais, claros e se esta informação está acessível a todos que dependem dela.

No outro extremo do contínuo padrão-criação, na música, temos o jazz. Como dizia um trompetista que conheci, “jazz não é ordem, jazz é desordem”. A execução no jazz, diferente da música erudita, é pautada na criação e não na proximidade com o modelo. Dessa forma, para melhorar a performance no jazz não é produtivo ter uma partitura de qualidade, até porque ela só é utilizada para orientar os músicos deste estilo. Nas peças de jazz, não se sabe exatamente quando a música termina, que momento cada instrumento entra ou improvisa. A percepção e especialmente a capacidade de criação fazem mais diferença neste estilo. Muitas empresas, setores e funções apresentam similaridade com uma peça de jazz, porque o resultado não é tão específico e o procedimento, menos ainda. Quem trabalha com marketing, por exemplo, possui um trabalho bem mais próximo deste modelo. Resultado pouco específico não significa ausência de objetivo ou que qualquer produto serve. No jazz, o que se espera é justamente a criação, mas dentro de uma harmonia compatível com a base da música.

Entre a música erudita e o jazz, há diversos estilos com uma variação grande entre a necessidade de se aproximar de um modelo e de criar. Algumas vezes tem-se um resultado específico esperado, mas com procedimentos pouco definidos e que, portanto, podem variar substancialmente. Outras vezes têm-se uma preocupação maior com os procedimentos, que são específicos, mesmo que o resultado possa ter pequena variação. Para cada contexto, elementos diferentes serão necessários para uma boa execução. Nas empresas, esta variação também acontece e, antes de qualquer trabalho em performance de pessoas ou equipes no ambiente organizacional, precisa-se compreender se estamos falando de uma peça erudita ou de jazz, se o foco será apenas o resultado ou também o processo. É preciso analisar, compreender e considera o estilo.

Considerando este conjunto de fatores, assim como na música, qualquer trabalho sério de performance precisa considerar a avaliação do “estilo”, incluir a definição e mensuração de objetivos e iniciar com um diagnóstico para identificar os pontos críticos de intervenção. Não existe milagre nesta área. Partindo deste diagnóstico, deve-se ter como sequência do trabalho as intervenções no contexto (regras e procedimentos, equipamentos, informações), o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades fundamentais para uma boa performance e o redesenho das recompensas que a pessoa recebe ao atingir ou não o desempenho esperado. Dessa forma, é impossível pensar que um treinamento em si seja capaz de alterar a performance de uma equipe ou de uma pessoa, a não ser que esteja conectado a estas outras estratégias ou que a falta de conhecimentos e habilidades seja apontada no diagnóstico como um ponto crítico. Se a proposição for então uma palestra ou ferramenta única, menos provável ainda que terá algum resultado. Para entender se sua estratégia para gestão e aprimoramento da performance é adequada cabem algumas perguntas. Os objetivos estão ou serão estabelecidos? Haverá uma avaliação do “estilo” ou da estrutura da tarefa da empresa, setor e função? Como será medido? Quais serão os critérios para considerar a estratégia como um sucesso? As ferramentas são adequadas?

Por outro lado, se o trabalho proposto com intervenção em performance não faz a análise do “estilo” e não trabalha o contexto só há três hipóteses plausíveis. A primeira é que se trata de picaretagem e a pessoa usou a palavra apenas para lhe vender um produto que ela mesma sabe que não funciona. A segunda é a inocência. A pessoa pode realmente ter uma estrutura de pensamento mágico e acreditar que escalar uma montanha ou levar sua equipe para andar de caiaque em um rio irá fazer tomarem consciência da sua importância na organização e melhorar a performance. Pode apostar, muita gente acredita em relações semelhantes, por incrível que pareça.

A última possibilidade é a de que a pessoa ou empresa tenha usado o termo performance em sentido diferente de desempenho e tenhamos entendido errado. Talvez a pessoa esteja usando primeiro sentido que colocamos, como show, como apresentação, como evento de entretenimento, assim como “performance artística” ou, provavelmente mais adequado, “performance circense”. Se assim for, as perguntas anteriores não cabem. A sugestão, se este for o caso, é que você se acomode em uma cadeira confortável, peça uma pipoca e faça a única pergunta pertinente neste contexto: hoje tem marmelada?

Gostou do nosso artigo? Se quiser ver outros conteúdos relacionados a intervenções em performance, veja nosso artigo “Conheça 3 ferramentas gratuitas para aumentar a performance” onde você pode conhecer aplicativos tecnológicos que vão te ajudar a ter uma maior produção.

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